sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ciúme: "Doença da Suspeita"

Pautada em uma visão psicanalítica pode-se afirmar que o ciúme que atormenta os adultos tem raízes na vida infantil, mobilizando forças primárias da vida psíquica, gerando atitudes irracionais, incontroláveis e inconscientes. O ciúme expressa o desejo de controlar e possuir unicamente para si a pessoa que se quer bem; traz consigo uma angústia de ser excluído, não suportando dividir a atenção da pessoa amada com mais ninguém. É uma forma infantil de amor, difícil de ser superada, é um amor possessivo, exclusivista, que não admite autonomia nem a independência do outro.

O ser humano desde o nascimento está submetido a forças e tensões que surgem do corpo e do ambiente, tem necessidade de ser reconhecido, receber atenção, sentir-se incluído e amado; a mãe e as pessoas que cuidam do bebê representam tudo o que ele deseja: fonte inesgotável de alimento e amor.

O ciúme nasce da saudade de um estado ideal, pleno de satisfação que se teve e foi perdido, misturado a um enorme ressentimento, onde provavelmente a criança foi negligenciada e desrespeitada, que lhe dá o direito de vingança sobre aqueles que pertubaram sua ilusão de perfeição infantil. A vida psíquica se assenta sobre esse estado primordial e inconsciente.

Willian Shakespeare referia-se ao ciúme como "o monstro de olhos verdes", uma metáfora sobre a cegueira induzida pelo sentimento que faz entrever como provável ou certo o que é apenas possível de acontecer. Em uma de suas obras mais populares, Otelo, o mouro de Veneza, o escritor aborda a "doença da suspeita", a desconfiança de que a mulher mantinha um relacionamento com um rapaz mais jovem levou-o a buscar e a acreditar ter encontrado provas da traição em fatos triviais.

Uma das características mais comum da pessoa ciumenta é a insegurança e a baixa autoestima, ela não acredita que tenha valor e mereça respeito. Quanto mais instável for seu sentimento de si mesmo, quanto mais frágil for sua organização pessoal, mais ela investirá seus ideais no parceiro, como uma forma extremada de obtenção da sua estabilidade e manutenção de si mesmo.

A psicanálise propõe a transformação da forma infantil de amar pela via da escuta, trabalhando a autoestima do paciente e ajudando a pessoa a elaborar o sentimento de exclusão e transfigurar o ciúme, o controle, a possessividade e a onipotência em dom criativo e singular.